O "MURMÚRIO" DA ARTE CONTEMPORÂNEA (ANITA PRADO KONESKI)

A arte contemporânea sempre deixou dúvidas e surpresas inesperadas. Até mesmo para os que se dizem entender da arte ela se torna um ponto de interrogação. E aí surgem as perguntas: o que é arte?Isso é arte? Como ler a arte de hoje?

A arte hoje questiona todos os paradigmas pedagógicos, tanto é que a leitura tradicional teve que tomar um novo rumo.
No 2º parágrafo da 20ª página Baudrilland comenta que a arte contemporânea está imobilizando, está girando somente em torno de si. É nesse momento que nos perguntamos: Será que ainda existirá um novo movimento artístico depois da Contemporânea? Será que a Arte Contemporânea não é mesmo um câncer que se prolifera em desordem?

Anita cita as palavras de Baudrilland, que a Arte Contemporânea tira partido da impossibilidade, de um juízo de valor estético e especula a culpa dos que não entendem nada, ou que não havia nada a entender. Segundo Anita Prado Koneski (pg. 22): “Nada mais parece dizer o que é arte,e nada parece dizer o que pode ser arte, sendo que o que é dito da arte pode também se converter em arte.”

A arte contemporânea quer romper todos os hábitos do pensar e se relacionar com a arte adquirida da tradição. Levinas convida a acolher a obra de arte como Rosto do absolutamente Outro, onde tomamos conhecimento do “Infinito”, um desconhecido, um estrangeiro, sem terra, sem destino e a Arte Contemporânea é isto mesmo, uma relação com o “impossível”.Podemos dizer que a grande maioria das obras contemporâneas é o Infinito, a impossibilidade, pois algo nelas “murmura...”

Gunther Von Hagens nos traz o corpo do “Outro”. O intrigante é que Hagens não é artista plástico e sim médico. Médico? Sim! Hagens trabalha numa linha de montagem de corpos plastinizados em fábricas, e não em ateliês. Seus funcionários manipulam seiscentos cadáveres, três mil e novecentos pedaços humanos, peles, vísceras, braços, cérebros, embriões e recém-nascidos. Montam os corpos através de sistema combinatório que o leva a realizar um procedimento da biologia genética moderna para conquistar o homem mais belo, a mulher mais perfeita. Hagens é como se fosse um escultor Grego, ironizando o caso. Ou melhor, “o horror da beleza do cadáver”.
Voltando um pouco atrás na História da Arte, notamos que Leonardo da Vinci utilizava a dissecação de cadáveres para aprimorar os desenhos e as esculturas, mas Hagens é mais “violento” e deixa-os como obra de arte e não apenas os utiliza para seus desenhos e esculturas como Da Vinci.

Quantas vezes ouvimos falar do ditado popular: “enganei a morte”?, Porque temos receio só de pensarmos na questão: quando vamos morrer? Existe vida depois desta? Como será se eu morrer? E esta vida, acaba? È como cita o texto de Anita:
Diante da morte estamos sempre numa relação de impossibilidade. Diante da arte, igualmente, estamos sempre diante da impossibilidade - é o que decretam radicalmente os corpos plastinizados de Gunther Von Hagens. Eles “murmuram” essa impossibilidade. Assim, arte não representa a impossiblidade, mas é a impossibilidade.
ANITA PRADO KONESKI (p. 30, 2008)

O “rosto” é sempre um rosto. O “outro” é sempre o outro. Quem morreu?O fulano. Há! Não conheço. Mas o “murmúrio” da vida passa a tomar reprise, ou não, na arte contemporânea. Ver, sentir, tocar, pensar, muitas vezes é um momento de horror quando contemplamos uma obra contemporânea. Porque tantas pessoas não gostam de ver a realidade? Será que elas se vêem naquele momento, ou lembram de algum fato? O caso é que a Arte Contemporânea é como a morte, agonizante e causa arrepios nas pessoas que a temem, e assim como a morte, muitas vezes se torna até mesmo um mistério de dúvidas.

About this blog

Contato

Sobre Nós

Minha foto
Sou acadêmica do curso de Artes Visuais. Atuo na profissão de professora à 2 anos. Já trabalhei na rede Estadual em Lages e em Campo Belo. Atualmente trabalho em duas escolas municipais de Campo Belo do Sul. Descobri que a grande paixão da minha vida é trabalhar com as crianças e os adolescentes. Amo o que faço e espero me aposentar nesta profissão que para mim é o meu porto seguro. É como a frase de Santo Agostinho:"Quando o querer é completo o trabalho se torna um lazer."

Seguidores

Recent News